Autor: Guilherme Albero
Em “A Viagem de Chihiro”, a jovem Chihiro, enquanto numa viagem de mudança com seus pais, acaba acidentalmente em um plano espiritual onde há uma casa de banho para deuses repleta de espíritos e criaturas místicas. Lá, ela precisa arrumar um emprego para se manter a salvo e descobrir como restaurar a forma humana de seus pais, que viraram porcos após devorarem uma tonelada de alimentos, enquanto embarca numa experiência ímpar que nos questionará sobre identidade, consumismo e a deturpação da natureza.
A fim de conseguir o emprego na Casa de Banhos, Chihiro é obrigada a assinar um contrato com Yubaba, a feiticeira e manda-chuva do local. Neste momento descobrimos que esta senhora rouba os nomes de seus funcionários para que eles esqueçam quem são e assim controlá-los, o que é exatamente o que ela faz com a protagonista ao arrancar alguns kanjis de sua assinatura. O nome de Chihiro é escrito com os ideogramas “千” e “尋” , pronunciados “chi” e “hiro” respectivamente, porém o kanji “千” isolado tem sua leitura alterada para “sen”, o novo nome de Chihiro, mas não são só ideogramas que estão sendo roubados. “Sen” literalmente significa “1000”, ou seja, Chihiro é roubada de sua identidade para se tornar só mais um número sob a asa da feiticeira. Entretanto ao ser lembrada de seu nome real por Haku, Chihiro se torna diferente de todos os servos ali, se afastando assim da ganância e consumismo que acometem a quase todos os seres que lá estão.
A ganância junto ao consumismo aqui estão intrinsecamente atrelados à falta de identidade e individualidade. Os pais de Chihiro se transformam em porcos após o consumo desenfreado de comida, os indistinguíveis funcionários são todos enlouquecidos por ouro e os clientes de maior destaque, Sem Face e o Deus Fedorento, são mais complexos e consequentemente mais interessantes.